MANIFESTO
PARA DESAFINAR O SILÊNCIO DOS CONTENTES
A literatura brasileira morreu? Não, ela está viva, muito viva, só não encontra recepção adequada da crítica literária, que, esta sim, morreu, ao menos nos espaços tradicionais onde antes ela se manifestava. Os grandes jornais diários extinguiram seus suplementos de cultura, como o antigo Folhetim ou o caderno Mais!, do jornal Folha de S. Paulo, o Suplemento de Cultura do Estado de S. Paulo e o Suplemento Literário de Minas Gerais, substituídos por editorias de variedades que preferem abordar filmes de sucesso comercial, best-sellers de grandes editoras ou programas de televisão. A devastação do jornalismo cultural é antiga, vem desde a reforma editorial dos jornais diários que sucedeu à queda do regime militar, em 1984, quando a imprensa tirou a sua máscara de “pluralista e democrática” e se assumiu enquanto segmento empresarial que visa o lucro, similar à agropecuária e aos açougues, deixando sua ideologia cada vez mais explícita, desde os editoriais até os enfoques dos artigos (supostamente) de informação. No campo do neoliberalismo, a cultura vale apenas os anúncios publicitários pagos por grandes editoras, pela indústria fonográfica ou distribuidoras de cinema. As poucas revistas mensais que dedicam algum espaço (cada vez menos) à literatura, por sua vez, têm a “curadoria” de grupos estreitos, que só publicam resenhas de autores que fazem parte de suas “panelinhas” de ferrabrazes. E assim a crítica literária minguou, ao menos na mídia impressa, embora sobreviva nas universidades públicas, nas pesquisas de mestrado e doutorado, que apresentam trabalhos de alta qualidade, mas, no entanto, ficam restritas aos muros acadêmicos. Há revistas eletrônicas de qualidade na internet, como Germina, Musa Rara, Zunái e muitas outras, porém, não são publicações especializadas na crítica literária; são revistas de cultura, que mantêm viva no Brasil a circulação de nossa melhor poesia e prosa, e também obras de artistas visuais, entrevistas, artigos de polêmica, entre outras pautas. Por todas essas razões, os editores do Banquete – que pedem essa palavra de empréstimo ao ideário antropofágico de Oswald de Andrade, no ano do centenário da Semana de Arte Moderna – resolveram criar a presente publicação, que procura conciliar o pluralismo com a exigência da qualidade, sem endeusarmos úteros angelicais de supostos cânones fabricados pelo marketing rumoroso. Banquete não se curva aos poderosos das grandes editoras; nosso princípio é oferecer aos leitores leituras críticas de obras em prosa e poesia que se destacam pela inventividade formal, pela originalidade temática, pela consistência, enfim. Em nosso festim antropofágico, só queremos as carnes mais suculentas, não as peles e os ossos oferecidos nos açougues pelos sobrinhos do Capitão. Enfim, é isso. Viemos para desafinar o silêncio dos contentes, parodiando outro antropófago visionário, Joaquim de Sousândrade, em seu épico O guesa. Agora, arregacem os caninos e boa leitura!
OS EDITORES