Por Mário Alex Rosa
Maurício Guilherme é um jornalista que fez mestrado e doutorado voltados para literatura brasileira. Primeiro foi a poesia de José Paulo Paes, depois as crônicas de Heitor Cony. Poesia e crônica estão presentes nos seus textos narrativos para imprensa. O jornalista se alimenta dessas artes como forma de alimentar suas práticas, digamos, jornalísticas, seja atuando na imprensa ou em sala de aula. O jornalista é praticamente um poeta inédito, mas que aos poucos, ali e aqui, publica seus poemas. No entanto, se o livro de poemas pode esperar, podemos nos aconchegar com seu primeiro livro infantil: Miúda, 2024.
Numa crônica sobre a chuva, Antônio Maria escreve que “uma goteira intermitente, caindo sobre uma folha, repete, em espaços certos, um som musical que me agrada. Foi por causa de gota assim, repetida, que Chopin criou o prelúdio Gota d’água”. Lendo Miúda, de Maurício Guilherme, lembrei-me dessa delicada e lírica passagem desse cronista. Há um pequenito mundo de uma gotinha que na sua miudez ocupa vários lugares: um rio, uma cachoeira, o mar e a terra. Aliás, ela adora se infiltrar debaixo da terra para ver a natureza crescer. A “Miúda” já fez girassol crescer, abacate, amora, beterraba e até jiló. Podem acreditar! E, quando precisam dela por urgência, aliviam a braveza do fogo, muitas vezes colocadas pelas mãos do homem nas matas. Nessas horas, miúda se multiplica, e nos comove com uma gotinha perto dos olhos.
Assim em síntese, a estreia do poeta Maurício na literatura infantil nos chega com uma “Miúda” que já nasce grande, seja na mescla delicada de prosa e poesia no texto, seja nas belas aquarelas que deságuam pelas páginas do livro postas pelas mãos do artista Bruno Assis.
Em tempo: por falta dela, quem sabe lendo a “Miúda”, ela nos ouve e muitas delas caiam sobre a terra, pois na cabeça, quer dizer, no rosto deste leitor já caiu. Miúda é um livro que todos nós precisamos para sentir o pequeno que transforma vidas.
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Mário Alex Rosa é autor dos livros infantis ABC Futebol Clube (Aletria, 2015), Cosmonauta (Aletria, 2022) e Formigas (Impressões de Minas, 2024).
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