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CORTANTE

Por Ademir Demarchi


→ Lâmina. Marcia Friggi. Editora Kotter, 2019.


Em Lâmina, primeiro livro de Marcia Friggi, destacam-se os poemas em que a autora pensa a condição feminina: os exemplos passam por mulheres de vidas exemplares contemporaneamente como Marielle Franco e Dilma Roussef para pensar sua existência no fio da lâmina, indo contra a violência e sendo vítimas dela, daí que um dos poemas remete à condição do professor, tendo ela sido vítima de um aluno em sala de aula, que foi notícia nacional. A leitura possível e contundente é que essa é uma violência que é masculina e política, estruturada pelo Estado tal como ele está organizado. Por isso vários dos outros poemas tematizam questões fulcrais do momento político e histórico que temos vivido nos últimos dez anos, como a tragédia de Brumadinho, a prisão de Lula, os passos do golpe que derrubou Dilma Roussef até as eleições de manipulações fakes de 2018, para chegar ao trágico ano de 2019 que se prolonga até hoje. Um poema do livro:


PORNOGRÁFICO


Embora ela forje

outro fado

Mulher não se preza

Elas não prosam

não pesam

Mulher é presa

pro abate

Em mulher a gente bate

melhor ainda se for pobre

preta ou puta


Embora ela sonhe outra sina

Mulher não se acata

Ela só cabe na cama

A gente esfrega o falo e

fode aplaudindo Ustra

Mulher não conta

não vale a cotação

do respeito

no mercado brasileiro


Embora ela persiga outra sorte

e grite, lute, rale

Embora ela não aceite

essa morte


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